Uma chávena de café poderá em breve tornar-se muito mais cara devido às novas regras de produção e desflorestação da União Europeia (UE). A afirmação foi do presidente da Lavazza, Giuseppe Lavazza, citado por euronews.com.
As regras recentemente introduzidas na UE sobre a desflorestação poderiam significar que as exportações de grãos de café de milhares de agricultores poderiam ser rejeitadas porque foram produzidos em terras que foram rapidamente desflorestadas.
Embora se acredite que as regras de desflorestação da UE sejam bem intencionadas, destinadas a preservar a qualidade das florestas e a reduzir o impacto da desflorestação nas comunidades locais, vários líderes da indústria temem que possam ter sido mal elaboradas e quase impossíveis de aplicar em alguns casos.
O que incluem as novas regras da UE?
Em 29 de junho de 2023 entrou em vigor a regulamentação sobre produtos livres de desmatamento. O principal motor desses processos é a expansão das terras agrícolas, que está relacionada à produção de bens como gado, madeira, cacau, soja, óleo de palma, café, borracha e alguns de seus derivados, como couro, chocolate, pneus ou móveis.
De acordo com as novas regras, os produtores de café de todo o mundo terão de utilizar coordenadas de satélite para mapear digitalmente o tamanho da sua exploração e destacar claramente os seus limites para verificar se alguma da terra foi recentemente desmatada.
No entanto, para alguns agricultores nos principais países produtores de café e em desenvolvimento, como o Brasil, o Vietname, a Indonésia e a Colômbia, isto seria quase impossível devido aos fundos e aos conhecimentos técnicos necessários para o mapeamento por satélite.
“Para todas as padarias europeias, este é um grande desafio. Pense nos agricultores da América Central, acho que muito poucos deles estão dispostos a cumprir a regulamentação”, comentou Lavazza.
Os limites das explorações agrícolas em muitos países são confusos e têm sido assim há gerações, fazendo com que os agricultores não conheçam exactamente a extensão total das suas explorações agrícolas e, portanto, sejam incapazes de fornecer as informações necessárias para o mapeamento por satélite.
É provável que os novos regulamentos da UE criem uma carga regulamentar adicional para os importadores de café do bloco, que terão agora de realizar verificações extensivas aos seus parceiros de exportação, tais como auditorias independentes e avaliações de risco.
É provável que isto aumente os custos e o tempo, o que também poderá significar que muitos produtores de café da UE consideram abandonar o bloco e criar instalações noutros locais, como a China ou os EUA, limitando ainda mais o fornecimento de café.
Os preços do café também estão subindo devido a fatores naturais
Os preços do café também têm aumentado recentemente devido a factores naturais, como a seca, bem como a factores geopolíticos, como a crise do Mar Vermelho, que aumentaram significativamente os prazos de entrega e os atrasos na cadeia de abastecimento.
“Há muitos factores que influenciam o aumento dos preços do robusta, incluindo a escassez relacionada com a seca que irá empurrar o preço para cima. Além disso, a escassez de Arábica relacionada com o clima aumentará a procura de Robusta, uma vez que os torrefadores terão de diversificar as suas ofertas”, afirma Sahra Nguyen, fundadora da Nguyen Coffee Supply, uma torrefadora e importadora de café especializado vietnamita.
As novas regras também visam reduzir as emissões de carbono da UE causadas pela produção e consumo destes bens no bloco. A Comissão Europeia insiste que as mudanças não imporão demasiados encargos regulamentares ou de custos aos agricultores.
