As alterações climáticas estão a mudar o mercado de vinhos espumantes na Europa

As alterações climáticas estão a mudar o mercado de vinhos espumantes na Europa

A mudança dos hábitos de consumo e as alterações climáticas estão a abrir caminho para que novos produtores de vinho espumante, como o Reino Unido e a Suécia, desafiem a hegemonia dos intervenientes tradicionais e ganhem quota de mercado, relata. Euractiv.

Nos últimos tempos, a mania do Prosecco e do Spritz perturbou os hábitos estabelecidos de consumo de vinho.

“Este ‘efeito Prosecco’ acelerou o consumo de vinhos espumantes na Europa”, explica Edouard Cassane, porta-voz da Federação Nacional dos Produtores e Processadores de Cremant na França.

Vinhos espumantes como o espanhol Cava e o francês Crémant de Loire também beneficiaram deste aumento na procura. O produtor francês registou um crescimento sem precedentes de 5,7% face a 2022, com 108 milhões de garrafas produzidas em 2023.

“Este é um vinho que responde a novos padrões de consumo; é acessível e menos alcoólico que os espumantes tradicionais”, acrescenta Cassane.

A acessibilidade é fundamental com a inflação alta. Por exemplo, enquanto um vinho espumante tradicional como o Champagne custa entre 25 e 50 euros em França, uma garrafa de Crémant custa menos de 20 euros. O mesmo vale para Prosecco ou Cava.

Não só as vendas de vinho espumante tradicional diminuíram, mas o consumo global de vinho na Europa também diminuiu. Entre 2010 e 2020, o consumo de vinho caiu 24%, com a Comissão Europeia a esperar um novo declínio anual de 0,2% entre 2020 e 2031. Em contrapartida, as vendas de novos vinhos espumantes estão a crescer.

Tendências

Em Espanha, a Cava estabeleceu um novo recorde em 2023 com 252 milhões de garrafas produzidas, um aumento de 3,9% face a 2022 e um crescimento de 10,6% em valor, segundo o site oficial do vinho espanhol.

Da mesma forma, em Itália, os vinhos espumantes e brancos representam agora mais de um quarto do total das exportações de vinho em valor (885,1 milhões de euros por ano), com um aumento de 9,1% nos primeiros cinco meses de 2024 em comparação com 2023.

Segundo dados do Eurostat, de 2017 a 2021, as exportações de vinhos espumantes não europeus cresceram em média 7% ao ano. Os maiores mercados são os EUA (31%) e o Reino Unido (28%).

Em 2021, as exportações atingiram 636 milhões de litros, um aumento de 29% após uma queda de 6% em 2020 devido à COVID-19. Prosecco (43%), champanhe (15%) e cava (10%) respondem pela maior parte das exportações.

As alterações climáticas ajudam novos concorrentes

A crescente procura de vinho espumante e as alterações climáticas estão a atrair novos concorrentes do norte da Europa.

“As uvas para vinhos espumantes são geralmente colhidas mais cedo, antes de estarem totalmente maduras, para manter a acidez”, explica Jean-Marc Touzard, diretor de pesquisa do Instituto Nacional Francês de Pesquisa Agrícola (INRAE).

Isto, combinado com o clima mais quente da Europa, torna a produção de vinho espumante mais viável em regiões mais frias. Variedades específicas de uvas também podem ajudar. Por exemplo, Solaris, uma variedade de uva desenvolvida na Alemanha em 1975, adapta-se bem a climas mais frios.

Na Suécia, as vinhas de Särtshöga produzem atualmente 5.000 garrafas de Solaris e planeiam chegar às 10.000 até 2026. O país escandinavo assinou recentemente um contrato com produtores ingleses para importar o seu vinho espumante para satisfazer a procura interna e diversificar a sua gama.

“No Norte da Europa, o consumo de vinho espumante já está bem estabelecido e as alterações climáticas estão a abrir novas perspectivas para os produtores”, observou Tuzar, que está a realizar uma investigação sobre as perspectivas 2050-2070.

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