A inovação “Plan Bee” – uma nova geração de proteção de culturas e sementes

A inovação “Plan Bee” – uma nova geração de proteção de culturas e sementes

As abelhas são cada vez mais utilizadas como intervenientes-chave na manutenção da biodiversidade através da polinização. A tecnologia de vetorização de abelhas é apenas uma inovação que aumenta a proteção de culturas e sementes. No entanto, muitos métodos alternativos de controle de pragas permanecem em laboratórios de pesquisa, afirma. Euractiv.

Segundo a ONU, a polinização é fundamental para a segurança alimentar, nutrição e saúde ambiental. As abelhas e outros polinizadores contribuem com 35% da produção agrícola total do mundo, polinizando 87 das 115 principais culturas alimentares do planeta. A polinização é responsável por quase 90% das flores silvestres e 75% das plantas comestíveis.

O uso de abelhas e polinização para proteção de culturas

Uma empresa é atualmente pioneira no uso de abelhas e na polinização para proteger as colheitas. A tecnologia de vetorização de abelhas é um sistema de agricultura de precisão que utiliza abelhas criadas comercialmente para o controle direcionado das plantações por meio da polinização. As abelhas terrestres ou melíferas carregam e entregam biopesticidas naturais ou agentes de biocontrole diretamente nas flores das culturas durante a polinização.

As abelhas recebem o pó de biocontrole em dispensadores colocados na entrada de suas colmeias. À medida que as abelhas visitam as flores para recolher pólen e néctar, o pó pousa nas flores, permitindo ao agente de controlo biológico proteger as culturas contra doenças e pragas.

Este sistema de distribuição direccionado utiliza significativamente menos produto do que a pulverização convencional, reduzindo drasticamente a utilização de pesticidas químicos, o que é um factor importante que contribui para a redução de mais de 40% das espécies de insectos.

Em 2020, a empresa canadense Bee Vectoring Technologies abriu seu escritório europeu na Suíça. Em Fevereiro deste ano, foram anunciados ensaios em Espanha, financiados pela Horizon Research and Innovation Action da Comissão Europeia, em colaboração com uma biofábrica espanhola que cultiva insectos para controlo de pragas.

Esta é apenas uma das várias inovações importantes que estão a ser exploradas para a proteção de sementes e culturas – inovações que são cada vez mais necessárias para cumprir as ambiciosas metas de redução de pesticidas estabelecidas pela Comissão Europeia.

Os desafios

Em 22 de junho de 2022, a Comissão Europeia publicou a sua proposta de novo regulamento sobre a utilização sustentável de produtos fitofarmacêuticos (SUR). Inclui metas a nível da UE para reduzir a utilização e o risco de pesticidas químicos em 50% até 2030, o que está em linha com a estratégia da UE do prado ao prato e a conservação da biodiversidade.

As novas propostas faziam parte de um pacote de medidas para reduzir a pegada ambiental do sistema alimentar da UE e ajudar a mitigar as perdas económicas e de biodiversidade decorrentes das alterações climáticas.

O regulamento foi apoiado por milhares de cientistas e mais de um milhão de cidadãos da UE que votaram a favor de reduções mais significativas nos pesticidas na Iniciativa de Cidadania Europeia Save Bees and Farmers (ECI).

Contudo, vários intervenientes opuseram-se fortemente aos novos regulamentos, incluindo o lobby da indústria de pesticidas e a agricultura industrial. Após semanas de protestos dos agricultores no início de 2024, a Comissão acabou por retirar a proposta em Fevereiro, depois de esta não ter conseguido reunir o apoio necessário no Parlamento Europeu.

Apesar da falta de uma posição parlamentar, os ministros da agricultura da UE tentaram continuar a trabalhar no regulamento sob a presidência espanhola do Conselho da UE. A Presidência espanhola alterou o texto original da Comissão, eliminando mesmo as metas nacionais de redução.

Em Janeiro deste ano, quando os belgas assumiram a presidência do Conselho, substituindo os espanhóis, propuseram manter partes do regulamento, especialmente aquelas relacionadas com produtos de biocontrolo e alternativas aos pesticidas químicos, mas com pouco sucesso.

Agricultores focam em metas

Será que este fracasso significa que os agricultores não estão dispostos a atingir os seus objectivos? A resposta curta é não, pois muitos agricultores estão conscientes dos efeitos nocivos.

Segundo Emma Brown, Diretora de Relações Públicas da CropLife Europe, o grande desafio é remover ferramentas agrícolas, como pesticidas químicos, que precisam de ser substituídos. Segundo ela, manter o conjunto de ferramentas atual corre o risco de atrasar a produção de alimentos, o oposto do que a Europa precisa. É aqui que entram em jogo as novas tecnologias agrícolas, que se desenvolvem mais rapidamente do que nunca.

Os biopesticidas, por exemplo, são uma nova classe de produtos fitofarmacêuticos que utilizam organismos vivos naturais, como micróbios e insetos. Outras tecnologias incluem a aplicação de novos revestimentos de sementes antes do plantio, o que também pode proteger contra pragas e doenças, eliminando totalmente a necessidade de pesticidas.

Além disso, novos projetos de pesquisa incluem o sequenciamento de genomas de pragas para identificar proteínas-alvo específicas de espécies e o uso de LEDs para identificar com precisão espécies de insetos para programas de vigilância.

Apoio e sucesso

Apesar do potencial, levará mais de uma década para que novos produtos sejam certificados e colocados no mercado.

De acordo com Sam Cooke, ecologista do Centro de Investigação de Rothamsted, métodos alternativos de controlo de pragas não estão realmente a ser implementados e estão “presos” em laboratórios de investigação.

“Todo esse controle de pragas é praticamente gratuito. O problema é que não o estamos utilizando adequadamente para os agricultores”, diz Cook.

Segundo ela, a regulamentação é grande parte do problema. As empresas mostram-se relutantes em investir em alternativas porque sabem que o processo regulamentar é difícil e dispendioso e assumem que o investimento não se justifica.

“Isso significa que o fardo do risco recai diretamente sobre os ombros dos agricultores. Neste momento não parece haver recompensa suficiente para os agricultores que tentam fazer a coisa certa. Isso precisa mudar. Se a UE pretende realmente atingir a meta de 2030, precisamos de tentar construir algum tipo de controlo alternativo”, afirma Cook.

Segundo a Comissão, “a principal barreira à adoção da gestão integrada de pragas (MIP) e de novas tecnologias é a incerteza enfrentada pelos agricultores relativamente à sua eficácia e utilização correta”.

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