A electricidade com baixo teor de carbono é um íman para o investimento estrangeiro?

A electricidade com baixo teor de carbono é um íman para o investimento estrangeiro?

Segundo o governo francês, a natureza descarbonizada do mix eléctrico do país é uma vantagem ímpar para atrair investimento estrangeiro. Porém, a realidade é mais complicada, diz ele Euractiv.

O presidente francês, Emmanuel Macron, recebeu 240 líderes empresariais franceses e estrangeiros no início desta semana em Versalhes para o Choose France, o maior evento promocional anual para a economia francesa.

Este ano, cerca de um terço do valor recorde anunciado de 15 mil milhões de euros em investimento estrangeiro foi para projetos relacionados com a descarbonização. Por exemplo, a gigante tecnológica Microsoft anunciou um investimento de 4 mil milhões de euros em novos data centers em França.

“O investimento surge porque descarbonizamos a eletricidade”, afirmou Roland Lescure, Ministro Delegado da Energia e Indústria, quando questionado sobre a razão pela qual a empresa escolheu França.

“A mistura francesa é um elemento muito forte de apelo do país e quando falamos com diferentes líderes empresariais, este é o ponto principal”, anunciou também o gabinete do presidente Emmanuel Macron.

Mas a realidade é mais complicada. Um mix de eletricidade descarbonizado é atraente, mas o custo da eletricidade, a confiabilidade da rede e outros critérios são igualmente importantes.

Descarbonização

Todos os anos a EY publica um ranking dos países mais atrativos da Europa para investimento.

“Fazemos um censo dos projetos de investimento e entrevistamos gestores para saber o que eles preferem”, explica Jeremy Haddad, analista de energia da EY.

Em 2023, e pelo 5.º ano consecutivo, a França lidera a lista, com um em cada dois investimentos em França a destinar-se a projetos industriais.

“No geral, em 2023, o mix de baixo carbono da França é uma vantagem na concorrência europeia”, acrescenta Haddad, como evidenciado pelos investimentos de mil milhões de euros anunciados durante o Choose France pelas empresas tecnológicas norte-americanas Amazon (1,2 mil milhões de euros) e Equinix.

O produtor espanhol de fertilizantes FertigHy também anunciou um investimento de 1,3 mil milhões de euros na primeira fábrica de fertilizantes com baixo teor de carbono da Europa.

A França pode, de facto, orgulhar-se de ter uma combinação de baixo carbono. A intensidade de carbono da eletricidade francesa é de cerca de 60 g de CO2 por quilowatt-hora (kWh). Uma enorme diferença em relação a Espanha (200g CO2/kWh) ou Alemanha (350g), segundo a Agência Europeia do Ambiente.

No entanto, na mesma semana em que França se vangloriou da sua arrecadação de fundos recorde, a empresa de Jeff Bezos anunciou um investimento de 7,8 mil milhões de euros na Alemanha para impulsionar a sua infraestrutura de nuvem.

Da mesma forma, o investimento da Microsoft em França não é tão invulgar quando comparado com os 2,2 mil milhões de euros investidos na Malásia para construir centros de dados.

“Sim, o mix descarbonizado é uma vantagem, mas é uma vantagem entre outros fatores”, afirma o economista energético e diretor do Centro de Pesquisa em Economia e Direito Energético Jacques Persebois.

“Sua importância varia dependendo dos setores afetados, dos atores envolvidos, da maturidade de suas metas ambientais, do voluntariado e muito mais”, acrescenta Haddad.

Uma combinação de fatores

“O que torna a França competitiva é a combinação de fatores – como estabilidade regulatória, localização geográfica, qualidade da rede elétrica, velocidade de acesso à Internet, força do mercado interno e qualidade da força de trabalho”, explica Persebois.

Como resultado, não é claro se a combinação hipocarbónica de França lhe dará uma vantagem competitiva tão grande que as indústrias se desloquem de outros países europeus para França.

Investindo em energia nuclear

Afinal de contas, os economistas acreditam que o reinvestimento na energia nuclear ainda deverá impulsionar a competitividade da França. Através do desenvolvimento da energia nuclear, o país pode garantir o fornecimento de electricidade controlada, barata e com baixo teor de carbono.

O acordo assinado entre o governo e a EDF em Novembro de 2023 estipula que o custo médio da electricidade gerada a partir de energia nuclear rondará os 70 euros por megawatt-hora (MWh).

Este preço dependerá, obviamente, da procura de electricidade, dos mercados de electricidade da UE, do custo e do tempo necessários para construir reactores.

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