Pesquisa mostra que fenômenos climáticos com poeira no deserto do Saara podem afetar gravemente a produção de energia solar, relata Euronews. A poeira do Saara é mais conhecida na Europa por tornar o céu laranja, reduzir a qualidade do ar e deixar uma fina camada de poeira nos telhados e nos carros. No entanto, é também responsável por um problema crescente – a chamada “poluição” das células solares.
O Dr. Eduardo Fernández e a Professora Florencia Almonacid, da Universidade de Jaén, na Andaluzia, estão entre os autores de um artigo recente que concluiu que a forte poluição em Março de 2022 reduziu a capacidade de produção de energia solar em até 80 por cento.
“Parecia o ambiente marciano, tudo era vermelho. O evento de março de 2022 foi verdadeiramente extremo. Mas mesmo pequenas quantidades de poeira podem reduzir a luz solar que atinge as células solares em 15%. E com o rápido crescimento da energia solar na Europa, as perdas de poluição poderão atingir milhares de milhões de euros por ano”, afirma o Dr. Fernandes.
A equipa de investigação em Jaén utilizou os seus laboratórios ópticos para encontrar soluções. Alguns cientistas concentram-se no desenvolvimento de revestimentos resistentes ao pó, enquanto outros estudam como o pó se comporta de acordo com condições climáticas mais quentes ou mais frias, mais secas ou mais húmidas.
Existem muitas variáveis a considerar. Por exemplo, os grãos de poeira podem ter tamanhos ou cores diferentes e podem afetar o desempenho das instalações solares de diferentes maneiras.
Até mesmo os elementos de design são importantes, como se o painel não tem moldura ou tem uma borda rígida ao redor da borda.
“As partículas de poeira do Saara são muito finas. E são particularmente difíceis de limpar”, diz o professor Almonasid.
Custos e benefícios da limpeza de painéis solares
A empresa de energia renovável Sonnedix enfrenta o desafio da poluição diária. Ao observar o resultado final de cada um dos seus parques solares, a empresa tenta calcular cuidadosamente quando é economicamente viável limpar os painéis fotovoltaicos. A limpeza em si é dispendiosa – cerca de 400-500 euros por megawatt – pelo que há compensações a fazer dependendo do custo da electricidade na central.
“Cada quilowatt-hora gerado é importante para a receita da usina. Portanto, estes grandes eventos de poeira têm um impacto”, afirma o diretor de operações da empresa, Juan Fernandez.
Ele agora trabalha com meteorologistas para ajudar a planejar sessões de limpeza dependendo dos eventos de poeira e do tipo de chuva, já que uma leve garoa pode sujar os painéis e chuvas fortes podem lavá-los.
“A forte poeira no Saara pode, na verdade, causar uma queda significativa na produção da rede e isso pode se tornar um problema para o operador da rede”, explica ele.
Existem mais fenómenos de poeira no Sahara devido às alterações climáticas?
O recente aumento da poeira no Sahara pode fazer parte das alterações climáticas normais, mas pode ser outra coisa.
“Embora não seja incomum que nuvens de poeira do Saara cheguem à Europa, tem havido um aumento na intensidade e frequência de tais episódios nos últimos anos, potencialmente atribuíveis a mudanças nos padrões de circulação atmosférica”, afirmou o Copernicus, Gabinete do Clima da UE.
Há alguma especulação de que estas mudanças na circulação atmosférica estão relacionadas com as alterações climáticas.
“A ciência é sempre cautelosa ao tirar conclusões. Mas o que vemos é que há cada vez mais eventos extremos – não só poluição, mas também chuvas e ventos. Vemos cada vez mais eventos do Sahara já a entrar até no Norte da Europa. As suposições de que isto se deve ao aquecimento global são bastante razoáveis”, conclui o Dr. Eduardo Fernandez.